quinta-feira, março 16, 2006

AMIGA



Amiga:
Que me apoias quando não estás
Que estás presente quando não estás
Que pensas em mim quando não estou.

Amiga:
Que me aprecias quando sorrio
Que me abraças quando choro
Que me aprecias quando não estou bem
Que me aprecias quando não estás bem.

Amiga:
Que te preciso
Quando não te preciso
Quando te detesto
Quando te amo.

Amiga:
Quando me mandas embora
Quando me pedes que fique
Quando te chamo
Quando te explico.

Amiga:
Sempre que te necessito
sempre que te vejo
Sempre que te telefono.

Anjo:
Selvagem, quando abominas...
Dominador, quando te exaltas...
Atenuante, quando te agrada....
Amador, quando te esvais...
Carinhoso, quando gostas...
Amigo,quando se realizam...
Sensual, quando te envolves...
Regenerador, quando te Integras...
Maravilhoso, quando te olhas...
Incrível, quando pensas...
Fantástico, quando te entregas...

Enfim, és das minhas queridas amigas.

Nunca te esquecerei, Ana "Só"

Fevereiro,2003

segunda-feira, março 13, 2006

Reflexão


Naveguei e encontrei...Encontra-se sempre algo de similar e de familiar...


Paulo Geraldo - As palavras irreparáveis


Algures, quase sempre em ambiente de festa, talvez junto de um altar, ela e ele pronunciavam as palavras irreparáveis.
Tinham pensado nelas e no que significavam.
Tinham deixado que o tempo corresse um bom bocado depois da passagem daquele sopro mágico que os atraíra um para o outro. Tinham-se conhecido melhor. Tinham observado bem as reacções um do outro. Tinham conversado muito. Tinham construído - a partir dos planos de ambos - um único projecto.
Sabiam que o sopro mágico tinha apenas o papel de iniciar uma coisa nova; e que partiria depois de algum tempo.
Isso não os assustava.
Iam em frente, com esperança, com alegria. E continuavam, depois de chegarem as crianças, contentes por a vida se complicar. Conversavam, discordavam, rectificavam, pediam perdão. Não à frente dos filhos, que tinham de se sentir seguros e não saberiam compreender; que poderiam julgar que o pai e a mãe discutiam.
Sucedia, normalmente, cedo ou tarde, o desencanto, a perda de sentido, a vontade de deixar tudo e procurar de novo, noutro lugar, um outro sopro mágico. Mas tinham empenhado a palavra. Tinham pronunciado as palavras que - dentro deles e à sua volta - não tinham retorno.
Ficavam. Iam ficando. Às vezes com prolongada dor, às vezes com um heroísmo de que não se julgavam capazes.
O tempo, porém, trazia, devagar, a calma, a alegria serena, a luz que parecia ter desaparecido. Aprendiam que o amor também passa como que por uma conturbada fase de adolescência, até que vem a tornar-se maduro, se purifica, se fortalece e embeleza.
Depois ficavam tão contentes!
Tudo tinha sido útil, tudo tinha tido o seu papel. Também a dor; também os esforços que pareciam inúteis; e as cedências e os silêncios e as humilhações.
Viam com toda a clareza como por coisa perdida tinham ganhado mil; como por cada lágrima derramada tinham oceanos de sorrisos; como por cada generosa tentativa, aparentemente frustrada, haviam recolhido cestos e cestos de consolação.

Olhavam e viam os filhos e os netos; a casa cheia de rebuliço; tranças louras; corridas atrás do gato; o indescritível prazer de voltar a contar as velhas histórias. "Avó, conta outra vez a da Cinderela"...; "Avô, é mesmo verdade que antes havia duas R.T.P.?"...
Viam, como num sonho, o passado e o futuro unidos por um nó que eram eles mesmos. Um nó que nada tinha podido quebrar e permitira o futuro, novos seres, outros sonhos tão iguais aos que eles mesmos tinham sonhado. Haviam suportado a tempestade e passado o Cabo; a Índia estava ali à frente dos olhos; o caminho, aberto para tantos e tantos cujos rostos eles nem sequer imaginavam.
Tinham tido um lugar no longo fio da vida; tinham sido alicerce e cimento; tinham as mãos cheias de sol. Nunca morreriam.
...................
Pode parecer que estive aqui a descrever um quadro que me encantou num museu qualquer... mas não. Sei muito bem que isto, só isto, é real e verdadeiro; que só isto é de hoje e de sempre."

Velho



Parado e atento à raiva do silêncio
De um relógio partido e gasto pelo tempo
Estava um velho sentado no banco de um jardim
A recordar fragmentos do passado

Na telefonia tocava uma velha canção
E um jovem cantor falava na solidão
Que sabes tu do canto de estar só assim
Só e abandonado como o velho do jardim?

O olhar triste e cansado procurando alguém
E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
Sabes eu acho que todos fogem de ti prá não ver
A imagem da solidão que irão viver
Quando forem como tu
Um velho sentado num jardim

Passam os dias e sentes que és um perdedor
Já não consegues saber o que tem ou não valor
O teu caminho parece estar mesmo a chegar ao fim
Para dares lugar a outro no teu banco do jardim

O olhar triste e cansado procurando alguém
E a gente passa ao seu lado a olhá-lo com desdém
Sabes eu acho que todos fogem de ti prá não ver
A imagem da solidão que irão viver
Quando forem como tu
Um resto de tudo o que existiu
Quando forem como tu
Um velho sentado num jardim...

Mafalda Veiga.